2º Ano

HELENISMO

O EPICURISMO: O ENCANTAMENTO DOS "JARDINS" DE EPICURO

Das escolas do Período Helenístico, talvez a que defenderá a mensagem mais fascinante seja o epicurismo. Fundado por Epicuro (341-270 a.C.), o epicurismo traz como pano de fundo de uma vida feliz a procura pelo prazer, que deve ser buscado em todas as coisas, o desprezo pela morte e a negação do temor aos deuses. Epicuro nasceu em Samos e chegou a Atenas em 323 a.C., mesmo ano da morte de Alexandre, o Grande. Fundou sua escola em Atenas em 306 a.C., depois de viajar por muitos lugares e conhecer os homens e o mundo.

Diferentemente das escolas de Platão (a Academia) e de Aristóteles (o Liceu), a escola de Epicuro não era um centro de investigação filosófica em busca da verdade sobre o mundo ou sobre o homem, identificando-se mais como um permanente retiro espiritual, em que os amigos se reuniam para buscar a felicidade por meio de uma vida simples e regrada, entregue à reflexão sobre o homem e à busca do prazer. Rejeitando o dualismo alma e corpo, Epicuro dirá que o homem e o mundo são formados por átomos, ideia retirada do pré- socrático Demócrito.  Segundo este, os átomos, que em si são eternos, se juntam formando todos os seres, inclusive o homem. Uma vez que tais seres são destruídos, esses átomos são separados e voltam à natureza, formando então outros seres. Na concepção religiosa do epicurismo, não existiria vida após a morte, uma vez que a própria alma humana é formada também por átomos e, quando o homem morre, esses átomos são simplesmente dispersados. Assim, Epicuro vai contra a preocupação dos homens em querer agradar os deuses com ritos e sacrifícios, uma vez que não há por que agradá-los, já que a alma não irá para junto deles após a morte.

Além disso, Epicuro, em sua Carta sobre a felicidade, escrita para seu amigo Meneceu, dirá que os deuses vivem em um lugar chamado de intermundo, não se importando com a vida dos homens, e, por isso, estes também não deveriam se preocupar em agradá-los, pois deles "nada temos a esperar e nada a temer".

Dentro de uma visão materialista, Epicuro dirá que o único conhecimento verdadeiro é aquele obtido por meio dos sentidos, que também são materiais, sendo eles os instrumentos pelos quais o homem conhece os seres do mundo.

Desse modo, o epicurismo valorizará as sensações, pois entende que elas são o testemunho imediato dos sentidos, sendo sempre verdadeiras.

Se não há vida após a morte e o destino, em certa medida, segue a natureza dos seres, sendo que o homem pode também seguir algumas coisas determinadas por si mesmo, resta ao homem buscar uma vida feliz nesta realidade terrena, vivendo cada dia como uma construção propriamente humana em busca do prazer. A boa vida, a felicidade neste mundo, deve ser a meta a ser atingida pelo sujeito.

Ao contrário do que se pensou por muito tempo, Epicuro não pregava uma vida de prazeres imoderados e sem limites, não podendo ser considerado, assim, o defensor de um hedonismo1 raso e superficial, no sentido de que o que vale na vida é o prazer em si mesmo, sem consequências de qualquer natureza.

Segundo a doutrina epicurista, o homem atinge uma vida feliz à medida que busca o prazer de forma moderada e equilibrada. Há uma clara distinção entre os prazeres ligados ao corpo e os prazeres ligados à alma, sendo estes mais importantes do que aqueles. Não são todos os prazeres que trazem a tranquilidade, mas somente os prazeres simples e racionalmente discernidos.

Nas palavras de Epicuro, "todo prazer é bom, mas nem todos devem ser desejados. Toda dor é ruim, mas nem toda dor deve ser rejeitada". Segundo a ética epicurista, o homem feliz é aquele que é austero e moderado, buscando os prazeres simples e virtuosos, racionalmente escolhidos. É por isso que o filósofo dirá que, de todas as virtudes, a mais valiosa é a prudência, pois é por meio dela que o homem é capaz de discernir os prazeres e escolher os melhores. Assim, Epicuro estabelece uma hierarquia entre os prazeres, dividindo-os em:

1°.Prazeres naturais necessários: Exemplo: comer o suficiente para saciar a fome.

2°.Prazeres naturais não necessários: Exemplo: comer comidas refinadas.

3°.Prazeres não naturais não necessários: Exemplo: riqueza, poder e prestígio.

Segundo Epicuro, os prazeres da primeira categoria devem ser buscados, os da segunda podem ser buscados de vez em quando e os da terceira nunca devem ser buscados, pois são insaciáveis e levariam o homem à angústia.

Sobre o mal e a dor, Epicuro dirá que ambos são inevitáveis. Desse modo, dirá que o mal físico ou é facilmente suportável ou, se é insuportável, dura pouco e leva à morte. E a morte não deve ser vista com medo ou como um mal em si, ela é, simplesmente, a suspensão dos sentidos. Epicuro, em sua Carta, dirá que "quando ela (a morte) está presente, nós não estamos, e quando nós estamos presentes, ela não está presente", por isso, a morte não deve representar nada para o homem.

Já em relação aos males da alma, Epicuro dirá que a filosofia é capaz de curá-los e de libertar completamente o homem de tais males.


CETICISMO

Fundado por Pirro de Élida (365/360-275/270 a.C.), o ceticismo, também conhecido como pirronismo, é uma das escolas mais importantes do Período Helenístico. Apesar de a tradição considerar o ceticismo como uma escola, ao contrário de Epicuro e dos estoicos, o ceticismo foi mais um pensamento, uma ideia que se disseminou pelo mundo do que propriamente uma escola. Os seguidores de Pirro não eram discípulos, mas simples admiradores que tomavam sua vida e atitudes como modelo para a busca da felicidade.

Pirro fez parte do Exército de Alexandre, o Grande, e com ele foi até a Índia. Nesse caminho, percebeu que as convicções gregas, as verdades que até então eram arraigadas e inquestionáveis de sua tradição, não passavam de um modo particular de ver o mundo, ou seja, as verdades ditas pelos gregos, que pareciam incontestáveis e evidentes, eram somente mais uma visão particular ao lado de outras visões diferentes sobre os mesmos assuntos. Com isso, Pirro concluiu que verdades únicas e absolutas não existem, não passando de opiniões.

Pirro não deixou nada escrito, a exemplo de alguns pré- socráticos e do próprio Sócrates. Quem escreveu sobre seus ensinamentos foi seu seguidor Tímon. Segundo Tímon, para que o homem seja feliz, ele deve ficar atento a três coisas:

  • Como são as coisas por natureza.
  • Qual deve ser nossa disposição em relação a elas.
  • O que nos ocorrerá se nos comportarmos assim.

De acordo com Tímon, Pirro dá uma resposta a tais questionamentos:

· As coisas são igualmente sem diferença, sem estabilidade, indiscriminadas; logo, nem nossas sensações nem nossas opiniões são verdadeiras ou falsas;

· Sendo assim, não é necessário ter fé nas coisas, mas sim permanecer sem opiniões, sem inclinações, sem agitações, dizendo a respeito de tudo: "é não mais do que não é", "é e não é", ou "nem é, nem não é";

De acordo com Tímon, Pirro dá uma resposta a tais questionamentos:

· Aqueles que se encontram nessa posição, ou seja, aqueles que atingirem tal atitude frente às coisas, em primeiro lugar alcançarão a apatia e depois a imperturbabilidade. Ou seja, essas pessoas alcançarão a felicidade.

A ideia central do ceticismo é, portanto, que o homem não pode encontrar uma verdade absoluta sobre nada no mundo. Dessa forma, cético é aquele que não busca a verdade, pois sabe que ela é impossível de ser atingida, seja porque o homem não tem condições de encontrá-la, seja porque ela não existe. De uma forma ou de outra, a postura do homem deve ser a de se abster de julgar o que as coisas são, de não emitir qualquer resposta à pergunta: o que é? Assim, se as coisas são indiferentes, sem medida e indiscerníveis, sendo que os sentidos, a razão, o pensamento não podem dizer o que as coisas são ou deixam de ser, o homem deve se contentar em simplesmente não buscar a verdade, permanecendo sem nenhuma inclinação, na total indiferença.

Não há por que se angustiar e perder a paz interior em busca da verdade, pois esta não existe ou é impossível de ser encontrada. Está aqui o ponto principal da argumentação cética, resumida no conceito de époche, que significa a suspensão do juízo. Um dos mais importantes representantes do ceticismo foi Sexto Empírico (séc. II), que escreveu suas Hipotiposes Pirrônicas, principal fonte que temos de conhecimento do ceticismo antigo. Em sua obra, ele dirá que o ceticismo é "a faculdade de opor de todas as maneiras possíveis os fenômenos e os noumenos [coisas em si mesmas, essências das coisas], e daí chegarmos, pelo equilíbrio das coisas e das razões opostas, primeiro à suspensão do julgamento (epokhé) e, depois, à indiferença (ataraxia)".


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